sexta-feira, 6 de março de 2015

O RIO DA NOSSA EXISTÊNCIA

Nossa existência é como um rio
Desde a sua vertente
Fonte de vida e prazer
Brilhante, sereno e cristalino.
Segue constante a correr
Abundante na bonança
Escasso na estiagem
Todavia prossegue firme
Contornando os obstáculos
Pois seu objetivo é vencer

Mas vítima da insensatez
De humanos inescrupulosos
Que destroem seu habitat
Embalde ele tenta lutar
Poluído perde suas forças
Como sobreviver não há
Quando a negligencia impera
E a cobiça fala mais forte
O vento da destruição passa
Trazendo um rastro de morte

Mira Maia
24/09/2014

SINGELA CRIANÇA

Oh, singela amarga e pobre criança
Que a vida vive, mais tanto assim não descansa
As pessoas passam te cospe, e você é quem dança
Feita de luz e esplendorosa de tanta esperança

Oh, filho da terra que andas sem rumo
Não tens teto, por a cabeça em um prumo
Sei que tua vida parece meio amarga
Não te preocupas há esperança, a paz te afaga

Oh, triste criança que alem de tudo, ainda sorrir
Não entendo, porque tanta gente tenta apenas te ferir
Com olhos baixos e corpo tremulo de fome, trouxe-lhe aqui
Mostra tua amarga existência nesse mundo cruel

Ao qual tens tanta sede, mais só te entregam o fel
Ao qual faz tanta gente correr com esperança no céu
Puramente enganados, perante seus rostos existe um véu
Oh, criança ame a todos, principalmente os maus, que acham que es um  réu.

Abel Maia Melo
Fortaleza-CE

Ode a Iracema

Busco palavras ao léu
Para falar de alguém.
Uma índia caiu do céu
Ou será do além?

Um mulher linda
Mulher menina
Que guarda consigo
O dom do abrigo.

Guarda seus medos
E o amor e segredos
Para dar e receber
O que diz não ter.

Parece até perdida
Mas, na verdade,
É incompreendida.

Compartilhar, amar,
Soltar um suspiro profundo
Depois voltar ao seu mundo
Para de novo sonhar.

Como índia, é inspiração
E assim, vira canção.
Uma ode a tanta beleza
Refletida por sua nobreza.

Nobres atitudes
Denotam suas virtudes.
Abrilhantam o seu ser
Também pleno de saber.

Palavras não restam mais
Apenas sentir sou capaz
E demonstrar tamanho carinho.
Sentimento recíproco não é sozinho

D´um simples encontro
Surgiu o encanto.
Despertando desejo
Do proibido beijo.

A espera de outro momento
Instiga de novo o alento.
Enquanto isso, até lá
Só resta com Iracema sonhar.

Neil Silveira

BENEDITO TONHO, SUA LUTA AINDA VIVE (CORDEL)


Por Benedito Rodrigues, Coreaú - CE
1.
Deus envia mensageiros
vindos da simplicidade
seja no campo ou cidade
sempre há vivos guerreiros
estes que movem inteiros
coletivos de pessoas
lutando por causas boas
em prol da libertação
gritam contra a opressão
de governos e coroas.

2.
Sucumbem por mão tirana
de covarde ambição
só por terem dito “não!”
ao injusto e sua gana
mas o tempo não se engana
passam páginas de História
e o que fica na memória
do povo à posteridade
é o que defende a verdade
mesmo sem ver a vitória.

3.
Que neste presente ensejo
se retrate um grande home
cuja marca traz no nome
uma luta e um desejo
o qual hoje ainda vejo
pelos cantos do Brasil
ser lembrado seu bravio
exemplo de resistência
marca de uma consciência
que ao medo resistiu.

4.
Era Benedito Tonho
o citado lutador
um caboclo agricultor
que seguiu vias do sonho
de enfrentar o mal medonho
chamado desigualdade
de terra e propriedade
que a uns dá e outros não
e ganhou perseguição
por pregar a liberdade.

5.
Seu lugar era Queimadas
Coreaú - Ceará
desde que nasceu por lá
partiu daquelas estradas
calejou-se nas passadas
que longe lhe levariam
e que também pesariam
no preço da coerência
deixando a referência
militante, aos que viriam.

6.
Envolveu-se em movimentos
junto aos trabalhadores
os quais foram formadores
de diversos regimentos
dispensando armamentos
ao povão organizaram
contra o Regime lutaram
nem que fosse Ditadura
e exercendo a bravura
boa-nova aqui pregaram.

7.
Entrou nas Comunidades
as Eclesiais de Base -
(sigla) CEBs, nesta fase
eram grandes novidades
que dentre as prioridades
elegidas aos cristãos
viveriam como irmãos
partilhando e construindo
a justiça e resistindo
e juntando as suas mãos.

8.
E também se envolveu
na pauta dos campesinos
que traçaram seus destinos
desde que se sucedeu
de cobrar o que era seu
um chão para se plantar
e para se ter um lar
é por isso que reagem
povo contra a vendagem
do que Deus a todos dá.

9.
Era essa a CPT
a Comissão Pastoral
da Terra que, nacional
surgiu para defender
o direito de se ter
pobre e rico, ambos os dois
terra, nisso que propôs
a natureza sabida
que disse que nessa vida
“vós iguais todos já sois!”

10.
Entrou ele nisso tudo
através de um movimento
que tinha como intento
dar ao povo sem estudo
ferramentas, sobretudo
para poder questionar
e depois se colocar
livre e emancipado
contra o que era ditado
pelos patrões a mandar.

11.
Essa tal iniciativa
claramente de valor
foi o Dia do Senhor
uma voz forte e altiva
que espalhou, afirmativa
uma semente vingada
atualmente espalhada
por esses nossos sertões
várias organizações
dele vieram formadas.

12.
Bené e os familiares
desde muito residiam
em Queimadas e faziam
por lá os seus cultivares
respiraram aqueles ares
desde que haviam nascido
no entanto, um fingido
rico ladrão fazendeiro
decidiu como um grileiro
tomar seu torrão querido.

13.
Já viviam em harmonia
como posseiros, a paz
era a única capaz
de mover sua alegria
e tudo que se fazia
servia à comunidade
segundo a fraternidade
nos encontros defendida
a qual sendo proferida
previne a leviandade.

14.
O grileiro arquitetou
documento falseado
onde estava atestado
como sua, registrou
a terra que, então, tomou
usando-se da mentira
mas perante essa traíra
Bené não amoleceu
daí em diante se deu
do grileiro vir a ira.

15.
Ameaças de porção
por sobre a comunidade
fizeram calamidade
abrasaram a emoção
dessa gente que em ação
pôs-se junta a pelejar
pela posse do lugar
onde se havia crescido
e que esse mal surgido
muito veio atormentar.

16.
E a nossa liderança
com sério risco de morte
não brincava com a sorte
alimentando esperança
da chegada da bonança
como prêmio pela lida
resistida e dolorida
comungada com os seus
resguardando a fé em Deus
e entregando sua vida.

17.
Mas seus dias se findaram
quando menos se esperava
quando Bené trabalhava
no roçado lhe abordaram
com um tiro lhe alvejaram
certeiro no coração
no martírio desse irmão
por meio da covardia
do bandido que de dia
veio em ordem do patrão.

18.
Em plena flor da idade
27 ele contava
que no mundo caminhava
e aquela fatalidade
gesto de animalidade
conseguiu lhe derrubar
mas sua luta sem par
inda vive nos que seguem
o exemplo e prosseguem
sempre e sempre a acreditar!

19.
A morte repercutiu
na mídia e nos movimentos
e entre choros e lamentos
o seu povo insistiu
na justiça conseguiu
ter a terra novamente
porém fato deprimente
foi, reinou impunidade
por sobre a realidade
desse nosso combatente.

20.
Não puniram o assassino
pela justiça terrena
mas a maldade obscena
não suplanta o destino
e o povo peregrino
do martírio do irmão
extrai mais motivação
para se erguer e lutar
e a vitória conquistar
pelo amor e louvação!

A BESTA ESTURRICADA

Quando deita-se o Sol com a Estiagem,
No confim dum tabuleiro esquecido,
No morto fundo dum poço bebido,
No ruminar da última forragem,
Despe-se toda planta de folhagem
Na nudez de raquíticos garranchos,
Nos lajedos incandescentes, anchos,
Petrificam-se imotos os lagartos;
Outros jazem de insolação já fartos
No vazio de refratários ranchos.

Na tristeza do coito consumado
Cessam mudos os pássaros seu canto,
Solidários ao incessante pranto
Que, penoso, permeia todo o prado.
O suplício do solo calcinado,
Da caatinga alquebrada e malferida,
Pela Besta voraz então parida,
Da fome, sede e morte portadora;
A Seca, impiedosa predadora,
Perseguidora ferina da vida.

Eduardo Macedo
Fortaleza - CE

SEM PROTOCOLO

Quero utilizar mais pincel
Viver com menos papel
Das cifras, quero só as delícias
Quero viver a granel.
Eu quero esquecer o tédio de ter que parecer rico
Eu gosto de ser excêntrico!
E que se dane a moda
Quero viver sem resenha
Eu quero um fogão a lenha
Mas com lenha, só de poda.

Zequinha
Acaraú - CE

POETA, EU ERA

Era poeta 'inda menino
no jogo de bila no meio da rua.
Já era poeta com oito anos,
quando meu pai me deu um cachorro.
Poeta, eu fui, com quinze anos
nas brigas de esquina, e corredores de escola
por meu país mais justo.

Poeta. É poeta, eu fui
quando o Brasil perdeu a Copa;
quando fui pai;
quando transei por amor;
quando eu morri.

...pena que me reste agora estar numa estante.

Mailson Furtado
Varjota - CE

100 ANOS DO QUINZE

A grande seca do quinze
Parece que se repete
O tempo que não promete
Não parece coisa boa
Não tem água na lagoa
Nem pra banhar um cabrito
O açude tão bonito
Água azul da cor do mar
Hoje tem em seu lugar
A lama seca do sol
Um campo de futebol
A caiamanga no seco
O peixe pegou o beco
Pescador não tem emprego
A água só tem um rego
De passarinho beber
Como é triste a gente ver
A Lagoa da Pinguela
Uma lagoa tão bela
Parece um grande salgado
Se olha pra qualquer lado
Só vê a cara do sol
A semente no paiol
A enxada na parede
Coqueiro morto de sede
O cajueiro também
E essa chuva que não vem
Pra molhar o meu chapéu
Temperatura cruel
Maldiz o ventilador
A água que nos restou
Não tarda ser estancada
Já é grande a estiada
Já é pouca a minha fé
Empurrar pra São José
Três anos de sequidão
Estica minha oração
Minha fé tão abalada
São José meu camarada
Faça abrejar minha roça
E mande chuva tão grossa
Que fure minha calçada!!

Orestes Albuquerque
Cruz - CE